[FP]Jachowitz. Emanuella

A loira, de estatura mediana e penetrantes olhos azuis poderia muito bem ter decolado na carreira de uma modelo fotográfico, ou quem sabe se tornado a popular líder de torcida da escola que todos amavam. As pernas bem torneadas, talvez sorte na loteria genética, o corpo bem delineado, os seios na medida certa, não era difícil atrair o olhar de garotos- e não somente deles- para as diversões das quais Emanuella tanta gostava.
Mas, a triste realidade – ao menos sob o ponto de vista da maioria, e também da sempre julgadora sociedade – Emanuella sempre tivera uma personalidade difícil. Dona de opiniões e um gênio forte era uma garota quase incontrolável, seus instintos acima de tudo, acompanhavam-na em cada ação, para o desespero dos pais.
Teimosia: a palavra que melhor pode caracterizar a loira. Faz o que quer, na hora que achar mais oportuna, e não, ninguém pode convencê-la de algo, caso ela não esteja disposta. Uma personalidade realmente difícil, não acha?
Mas, calma, por mais incrível que isso possa lhe soar, as pessoas não são feitas somente de defeitos, e com Emanuella não era diferente. Por trás de sua teimosa e de todo errado que a garota apresentava, no fundo, em algum lugar no qual ela não hesitava se meter, havia desejo de algo maior, melhor. De mudança, ela diria, contudo ela não parecia acontecer de forma que a atraísse, que lhe trouxesse aquela vontade de melhorar que seu psiquiatra tanto falava.

Era uma noite tranquila na pequena cidadezinha de Fleurs, no interior da França, quando Emanuella nascera. A pequena garotinha de olhos azuis teria uma infância conturbada, marcada pelas incessantes brigas dos pais e posterior separação.
Mais tarde muitos psicanalistas diriam que ali estava a sua fonte de intermináveis problemas que parecera começar na adolescência, com um pouco mais do que um surto de imaturidade frequente naquela idade.
Cidades pequenas significavam muitas fofocas, e estas pareciam pairar sobre a figura da loira que parecia ganhar cada vez mais fama entre os colegas, além dos seus pais. Mas quem disse que se importava?
Eram festas, cigarros, bebidas, ás vezes algumas drogas, perdera as contas dos seus dias de ressaca, mas sabia que deviam ser tantas quanto suas idas ao psicólogo.
Era mais uma das festas convocadas pelo time de futebol da cidade, e Emanuella não precisava de convite para comparecer. Adolescentes bêbados, cigarros, drogas e é claro, muito sexo. Aliás, ali encontrava-se algo que chamava a atenção da garota, e que viria a se tornar seu grande problema.
E foi no meio da bebedeira daquela noite que Emanuella dera mais um passo em direção do que considerariam problemas para ela. Já não tinha tanta noção do que estava fazendo, lembrava-se vagamente de estar sentada com uma garrafa de vodka em suas mãos e logo depois aos beijos com uma morena que há algum tempo conversava ao seu lado.
Podia sentir o gosto da bebida na língua da garota, um beijo quente e intenso e que ela, causando-lhe uma breve surpresa, gostara. E não é necessário dizermos que a noite não parara só com o simples- mas não inocente- beijo das meninas. Costumava-se dizer que garotos adoravam ver aquilo, uma das principais razões para ocorrer as famosas surubas, e não seria diferente aquela noite, com um bando de adolescentes bêbados e drogados.
E a partir daí seus problemas só cresceriam, chegando em tamanha proporção que medidas drásticas seriam tomadas. Chegar tarde em casa, ou até mesmo não chegar em casa, tornara-se uma rotina para a garota, além das ressacas e noite com garotos, e garotas também, claro.
E sua triste sentença seria ser mandada, por ambos os pais, para um instituto na Inglaterra. Reabilitação para Jovens Problemáticos como ela, diziam seus pais. Para curar seu distúrbio DSH (Distúrbio Sexual Hiperativo), recém diagnosticado, dizia o psiquiatra.
As alegações pouco lhe importavam, a verdade é que dentro de uma semana encontrava-se deslocada com seu sotaque francês, presa dentro de uns muros de uma antiga construção. E ela não conseguia enxergar como aquela prisão poderia trazer benefícios a suicidas. Certamente, se fosse um deles, teria tido a coragem de se matar antes de pôr seus ricos pés dentro daquele castelo estranho.
.